Então escutei a voz do vento nas folhas das árvores... Os espiritos da floresta que dançavam nos galhos, riam de mim porque eu queria dançar com eles! Para eles eu ainda era uma menina.... Mas, quanto mais eu dançava eles pararam de rir e me disseram que não precisa provar mais nada para eles... Eu já dançava como mulher... Uma Mulher Waiãpi!

Eu voei com o vento e comi com as borboletas! Provei do mais precioso mel da floresta. E resolvi ficar com as flores... É por isso que ainda tens o meu sorriso.

Apenas eu... apenas eu sei se chorei... o pranto silencioso que emiti em meu sorriso de glória... a dor que perdura em um olhar de vitória... e as palavras doces que saiam de um coração marcado pelo horror e pelas perdas da vida! Apenas eu ... apenas eu sei se ainda amo... apenas eu ... que guardo aquele sorriso que me foi roubado... aquele canto que foi abafado, e aquela imagem e inocência de menina, entrelaçada e perdida neste corpo de mulher. Apenas eu... apenas eu posso escrever esta história. Sou a cabeça que se ergue, a mão que escreve a saga dos guerreiros que amaram, dos sonhos que não se perderam e da força que ainda existe em mim. Apenas eu... E apenas poucos sabem o que é levantar a cabeça... olhar nos olhos e não se envergonhar do que a sua alma esconde... Nada foi fácil! Enfrentar o julgo desigual, a truculência dos maus, o planejamento e a estratégia dos invejosos. Nada foi fácil! Se assim muitos pensam que o mal que me fizeram foi o máximo para me derrubarem e se os desejos de derrota foram o suficiente para me destruir, eu vos digo: Não me destruiram! E quanto as palavras de injustiça, as mentiras que inventaram sobre mim e principalmente contra o homem que amei... Eu vos digo: Sim! Vocês me feriram, isto eu não vou negar... Mas eu fiz do cascão de minhas feridas o escudo pra me proteger! E por isso continuei lutando... E continuo forte e continuarei vencendo!Por isso eu estou aqui! Eu sei o quanto custou chegar aqui... o preço que paguei... pelo País e a Força que amei... as dores que senti... tudo que perdi... os afetos e os desafetos que cultivei... Mas nada foi e é mais importante em saber que uma índia Wajãpi chegou aqui com Honra... Medalhas... são apenas medalhas... que o tempo corrói... Mas o que está por trás dela... o vento não apaga, a traça não destroi...

Viagem à Amazônia (Estado de São Paulo)


 UM BOM DIA PARA TODOS NO PRIMEIRO DIA DE 2000INOVE. 
  VALE A PENA LER ESSE DEPOIMENTO


VIAGEM À AMAZÔNIA

Denis Lerrer Rosenfield

(O Estado de S. Paulo)

Visitei, no início de dezembro, a região a convite do Comando Militar da Amazônia. A viagem fez-se dentro do Programa Calha Norte, voltado para a manutenção da soberania nacional e da integridade territorial da Região Amazônica e para a promoção do desenvolvimento regional. As observações a seguir são de minha inteira responsabilidade e não envolvem nenhuma das autoridades militares que fizeram parte dessa missão.

O objetivo da missão era visitar os Pelotões Especiais de Fronteira (PEFs), postos avançados do Exército nas fronteiras da Amazônia, brigadas do Exército, o VII Comar (Manaus) e o Distrito Naval de Manaus, abrangendo, portanto, as três Forças. Os locais visitados foram Manaus, Barcelos, São Gabriel da Cachoeira, Maturacá, Sucurucu e Boa Vista.

A visão aérea da região, sobretudo na viagem à fronteira norte em direção à Venezuela e à Guiana, é de completo despovoamento, com floresta amazônica cerrada. Os Pelotões Especiais de Fronteira, no caso das visitas a Sucurucu e a Maturacá, situam-se, podemos dizer, `in the middle of nowhere`. Se não fossem eles, teríamos uma região totalmente desprotegida, que apenas poderíamos dizer que se trata de terra brasileira. A soberania não é somente uma questão abstrata de demarcação territorial, mas de efetiva presença brasileira. Sem o Exército e as Forças Armadas em geral, as portas estariam abertas para que essa região pudesse tornar-se de outras nações, o que, no vocabulário atual, significa `patrimônio da humanidade`. Não nos deixemos seduzir por esse jogo ideológico das palavras.

A presença militar nessa região de fronteira é constituída por em torno de 26 unidades militares, claramente insuficientes para as reais necessidades do País. Hoje se fala muito, a partir de um decreto assinado pelos ministros da Justiça e da Defesa, de ampliação para mais 28 PEFs, assegurando a soberania nacional nessas terras indígenas. Há, porém, um componente demagógico nessa discussão, pois os pelotões existentes têm muitas carências. Não há, atualmente, recursos para a construção desses novos PEFs. O que houve foi um ato de desviar a atenção do julgamento da Raposa-Serra do Sol, com o intuito de favorecer a demarcação contínua.

O Estado brasileiro nessas regiões é completamente ausente. Ou melhor, a sua presença se faz unicamente graças às Forças Armadas. Toda a região de fronteira amazônica se caracteriza pelos mais diferentes tipos de ilícitos, do tráfico de drogas ao desmatamento, passando por contrabando de armas e garimpo. Trata-se, literalmente, da lei da selva. As fronteiras são extremamente permeáveis, pois, por exemplo, a distância entre um pelotão e outro varia de 150 a 300 quilômetros.

O Cimi e a Funai têm propagado a idéia de que o Exército não é necessário, pois os índios defendem a fronteira. Nada de mais falso. Os índios não têm nenhum sentido inato de pátria. Os ianomâmis, por exemplo, vivem em pequenas aldeias, com pouco contato com os civilizados, brancos e caboclos, alimentando-se basicamente de farinha e de pouca caça. Circulam entre fronteiras e são tutelados pela Funai e por missões religiosas que lhes inculcam ainda mais o sentido do isolamento, da separação e, mais recentemente, a idéia de nação, distinta da brasileira. Quem defende a fronteira é o Exército.

O que, sim, existe são brasileiros índios. São índios que se tornaram brasileiros, o que significa, nas regiões visitadas, que se tornaram brasileiros graças à sua incorporação ao Exército. Nem teriam, não fosse isso, o domínio de nossa língua. Não faz o menor sentido falar de defesa do território nacional, de nossa soberania, sem as Forças Armadas. Quem o faz, na verdade, está fazendo um jogo contra o próprio País. No dizer de um membro da comitiva, são `brasileiros índios`, e não `índios brasileiros`. Os índios incorporam-se voluntariamente ao Exército, que se torna um meio de sua integração ao Brasil. Ganham, em suas próprias tribos, prestígio e melhoram a sua condição de vida. Guardam também as suas tradições, voltando às suas aldeias, no interior desse processo de aculturação que os faz brasileiros. É isso que suscita a reação da Funai e do Cimi, que têm como objetivo segregá-los e isolá-los, dentro de um outro projeto político.

Em São Gabriel da Cachoeira há um batalhão completamente indígena, de diferentes etnias. Em Maturacá, o pelotão é constituído por indígenas de 22 etnias. Todos uniformizados e bem treinados para a guerra na selva. Segundo os comandantes militares, trata-se dos melhores `guerreiros da selva`. Presenciei uma cerimônia militar altamente impactante. É difícil não ser sensível a ela. O local foi, em São Gabriel da Cachoeira, uma colina que dá para o Rio Negro. Lá, a tropa estava perfilada, para uma formatura, com a presença do comandante militar da Amazônia, o general Heleno. Fazia parte do ritual cantar o Hino Nacional. Naquele ermo do mundo, os soldados indígenas cantavam o hino a plenos pulmões, numa adesão pouca vezes vista. É como se sua alma falasse através desse canto, dessas palavras, numa irmandade que conferia a todos os presentes uma mesma união, uma união nacional.

Os brasileiros indígenas são índios aculturados, que se sentem brasileiros. Terminam se identificando com os caboclos, que são o resultado da miscigenação de brancos com índios. O caboclo é o nativo da região e termina servindo, para o indígena, como modelo de integração ao mundo não-indígena. É um equívoco conceitual opor índios aos brancos, dentro de uma região que já é o produto de um processo de aculturação e, sobretudo, de miscigenação racial, com casais constituídos de diferentes raças e etnias. O caboclo é fruto de todo o processo histórico brasileiro. Os que se opõem à aculturação e propugnam pelo isolamento visam, na verdade, a se opor a todo o processo histórico que resultou na Nação brasileira.

Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia

Publicado originalmente: O Estado de S. Paulo - 22/12/2008.

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A LUTA por Justiça é infinda! Há quem confunda nossa capacidade de resistência e sobrevivência! Há quem se orgulhe! Há quem tenha medo!
E eu...
Eu não quero nada de ninguém, quero sonhar meus sonhos, aqueles que sonhei sentada na beira do rio.
Quero ter a certeza que poderei voltar pro meu povo um dia e dividir com eles tudo aquilo que aprendi...
Mas, é só ciência, são apenas letras,
muitas letras!
E onde quer que eu vá minha maior certeza é que as "letras" não podem mudar meu sangue e nem o espirito do guerreiro que mora em mim!

Porque seremos sempre uma familia...em qualquer lugar e em qualquer circunstância... Unidos pelo sangue Waiãpi, pela história de guerra e luta de nosso Povo, pelo Deus de nossos Antepassados...

Queres um corpo uno, com um beijo que queima e arrebata? Queres entrelaçar-te em lençois que escreverão histórias de delirios com o suor do nosso corpo? Sim! Quero a tua mão a vasculhar o meu corpo com a tua força... Quero tua mordida louca que me faça sentir com dor o calor de tua boca! Quero o ardor do teu corpo fazendo parte do meu como se nunca mais quisesse ser outro... Sim! É assim que eu te quero... É assim que eu te espero... É assim que te desejo! Sim! Da-me outro beijo e me terás em tuas mãos... (do Livro: Olhos da Amazônia - Silvia Nobre)


Eu sou

Sou a terra que me sustenta, meu sopro é o ar que tu respiras. Sou o fogo que arde dentro do seu coração. Sou a água que gera e fertiliza. Estou em tudo, nos céus, nas estrelas, no mar. Estou dentro e fora de ti. Sou a senhora da vida e meus são os poderes dos elementos...
Quem se atrever a passar os limites do mundo, que permaneça no elo do poder dos espíritos.

Na noite escura, os gemidos dos galhos das árvores, trazem os segredos da lua negra... e eu apenas danço com os mistérios da noite e os guardo no meu corpo, no desejo de te queimar em meu ventre e sugar sua alma pela minha boca!
Eu só quero a força a mim prometida no Portal e os poderes dos 4 elementos...


Eu já prometi muitas coisas em minha vida... Muitas eu cumpri, outras se apagaram com o tempo ou foram esquecidas no baú de lembranças de menina. Mas quando vejo esta Bandeira sei que é a única que eu realmente defenderia mesmo com sacrifício de minha própria vida!

E é por causa dela que luto todos os dias para fazer honrada a minha história...

Muitos dizem que sou "seca e dura". Eu vos confesso! Só chorarei o dia que puder enxugar minhas lágrimas com minha BANDEIRA! E dizer a ela: EU cumpri minha Missão!

Por vezes, alguns pensam que meu "espírito inflamado" de amor a esta Pátria é porque convivo com Militares... Não Senhores! Eu apenas divido com ELES aquilo que muitos pais esqueceram de vos ensinar... Que o BRASIL está acima de tudo!

E onde quer que eu vá, esta Bandeira será honrada! Pois foi graças a ELA que sou o que sou e que mantive erguida a minha cabeça!

Dia após dia eu ensino aos meus filhos que o GALARDÃO de HONRA de um homem está na sua vida de serviço à Pátria.

Onde quer que eu vá, deixarei a todos o meu exemplo!

Viver e Morrer com Honra...

É assim que EU quero que esta Nação lembre-se de mim...

Se EU não amar minha Pátria primeiro; não serei digno nem de minha sepultura. Porque será neste solo que serei enterrado com HONRA! Somente os FORTES poderão desejar com ardor, ser enterrados nesta TERRA chamada BRASIL!

Sim morreria pela Pátria! Não pela Pátria que ela é hoje em dia... mas pela Pátria que eu espero que ela seja algum dia!

Silvia Nobre Wajãpi, do Amapá e do Brasil.


Estou na procura de mim mesma...
Se algum dia pensar que sou fraca e que preciso de um herói... sempre direi a mim mesma... Eu sou Waiãpi... sou a filha da mulher de mel, filha da arumã, filha de Ianejar ... então serei forte e continuarei vencendo!
Eu sempre irei buscar o melhor de mim...
Sou a força que procuro dentro de mim!

Eu só quero o seu amor

Montes não são obstáculos para mim... correrei por eles e atravessarei sem dor como quem pisa em folhas secas....
Eu só quero o seu amor ...
Tenho pago todos os preços...
E não tenho medo de ninguém.
Não tenho medo do sol
Não tenho medo de ossos quebrados e nem da dor
Tenho pago e pagarei todos os preços!
Eu não tenho medo de ninguém
Não me importo com ninguém...
Eu só quero o seu amor...
Eu vencerei a todos para ficar ao seu lado...
Pois só me importo com o seu sorriso...
É você quem eu amo.
Montes não são obstáculos para mim... correrei por eles e atravessarei sem dor como quem pisa em folhas secas....
Eu só quero o seu amor!